sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Loucura por superioridade


Segundo o dicionário Aurélio, superioridade é a qualidade de quem é superior, ou seja, que está mais acima; mais elevado. Não quero aqui abordar superioridade de modo geral, mas sim, especificamente na área religiosa. Muitos têm essa necessidade de estar por cima, a fim de dominar o outro, impondo a interpretação de certo e errado, de acordo com seu próprio parecer. Pior que isso, desenvolve certa neurose pelo poder, submetendo-se a qualquer coisa só para estar por cima, mesmo que implique passar por cima e fazer do outro um degrau em sua escada rumo ao poder. Essa loucura por superioridade é gerada por três situações: culto ao narcisismo, apropriação de normas próprias de conduta e divinização.
O culto ao narcisismo é um culto à vaidade humana, ao prazer de ser o destaque em qualquer ocasião e o privilégio de sempre estar em voga, reservado a poucos. Se voltarmos no tempo e chegarmos ao período da igreja primitiva, veremos que o sentimento predominante não era de superioridade e sim de fraternidade. Ser apóstolo antigamente não era status e tão pouco cargo eclesiástico. Ser apóstolo era sinônimo de trabalho, pois, o apóstolo nada mais era senão um missionário, um enviado, um proclamador das Boas Notícias. Ser missionário não era um cargo para ficar dentro de uma comunidade em busca de um título. O missionário se disponibilizava totalmente para anunciar as Boas Novas da Salvação, mesmo que isso custasse sua vida. Vemos que na igreja primitiva não havia muita diferença entre presbíteros, pastores e bispos. Todos eram pessoas que cuidavam de vidas. Sem falar nos diáconos, cuja palavra remete a pessoas que estão dispostas sempre a servir. Olhando para trás e para hoje, vemos que, ao invés de cargos eclesiásticos, o que existe hoje é um plano de carreira com diferentes projeções salariais. Devido às projeções de ganhos, os cargos eclesiásticos acabam se transformando em uma espécie de cadeia alimentar, um querendo subir nas costas do outro. Não sou contra as funções eclesiásticas, sou contra essa loucura descabida que vemos hoje. O pastor de hoje, amanhã se tornará um bispo, depois “apóstolo”, patriarca, anjo, sacerdote e, pelo jeito que as coisas vão, logo veremos sumos sacerdotes. Onde vai parar esse culto à vaidade humana? O pior que tudo isso é feito em nome de Deus. Acredito que essas pessoas que se dizem seguir a Jesus, nunca leram a parte do Evangelho que diz: “[...] o maior entre vos é quem serve mais [...]”. Sejamos pequenos para que Ele apareça em nós, voltemos à simplicidade do Evangelho de Cristo.
O ditador de normas é aquele que cria uma espécie de máquina duplicadora de sua própria imagem nas pessoas. Ele próprio normatiza o Evangelho e ainda transforma o comportamento das pessoas assemelhados aos seus, se tornam verdadeiros sósias. O prazer de estar por cima e afirmar o que é certo e o que não é parece gerar em algumas pessoas uma espécie de “orgasmo personificado”. Podemos constatar isso ao ver a quantidade absurda de novas denominações que surgem todos os anos, com os nomes mais diversos. Muitas dessas denominações nascem porque pessoas pertencentes àquela denominação, geralmente, se posiciona contrariamente às normas vigentes. Para exemplificar e deixar mais claro, suponhamos que nosso corpo é uma denominação, cujo nome é: igreja dos cinco sentidos (acho que essa até o momento não existe). O irmão olho acha que não precisa de muito barulho para adorar a Deus, basta ter beleza, contemplação e silêncio. Logo, o irmão olho identifica uma denominação que também compartilha da mesma ideia, a do irmão ouvido. Então, nasce uma nova denominação: igreja de olhos e ouvidos. Nessa nova igreja o irmão olho, agora, passa a ser pastor. Consequentemente irá criar suas proibições e permissões e a primeira proibição será: ninguém poderá cantar e nem bater palmas. Logo, os irmãos tato e boca não poderão pertencer a essa igreja. Precisamos entender uma coisa: Cristo nos chamou não para pregarmos o que concordamos no Evangelho e sim para proclamar as Boas Novas como ela é.
Das três situações citadas no início desta reflexão, das duas mencionadas acima, acredito que a pior é esta: a divinização, pois foi por este um dos motivos que levou o homem à desobediência lá no Éden, pois, ele queria ser igual a Deus. Muitos dos que sofrem da síndrome de superioridade acabam sendo verdadeiros semideuses, os quais constroem uma casta superior semelhante à dos intocáveis, os quais se apossam, pelo menos acreditam, das chaves do céu e do inferno para onde irão todos aqueles que se curvarem às suas ideologias ou não. Assim, o critério para entrar no céu pelos tais idealizado é se parecer com eles e com o evangelho que eles pregam. Há um comercial que fala, que veicula uma expressão e reflete a lamentável situação da igreja atual: “[...] existem mil maneiras de preparar Neston, invente uma [...]”. Para a situação atual que vemos eu diria: “[...] existem mil maneiras de criar uma denominação, invente uma [...]”. Quando Martinho Lutero propôs uma reforma ele não queria dividir a igreja católica romana, apenas queria que algumas coisas fossem melhoradas à luz do Evangelho (coitado de Lutero se tentasse fazer isso hoje. Iria ter muito trabalho e talvez nenhum resultado). Uma das coisas que Martinho Lutero falou foi: “[...] somos sacerdotes de nós mesmos, pois, o modo de Deus nos tornar justos se manifesta em atos de f,é confessando nossas falhas, pedindo perdão e sendo perdoados [...]”.  Com total ousadia Lutero declarou para os que vendiam indulgências para salvação: “[   ] só há um Salvador, Jesus Cristo![...]”. (Palavras citadas no filme: Martinho Lutero. A produção clássica de Louis de Rochemont, ano 1953, preto e branco). Não somos divinos, somos falhos e estamos sendo aprimorados a cada dia. Não somos melhores que os outros, pois, também somos imperfeitos!
Resumindo: essa loucura por superioridade nada mais é senão a ausência do ser discípulo de Jesus. A superioridade do discípulo é ser servo inútil. Não há nada que façamos para sermos melhores que os outros. Jesus tem de ser o líder da nossa vida. Contudo, é preciso entender que Ele também levanta homens e mulheres que serão instrumentos seus para nos orientar quanto ao poder transformador do Evangelho. Minha oração é que todos sejamos servos de Deus e uns dos outros, sem querer ser superior a ninguém, ao afirmar como o evangelista João: “[...] convém que Ele cresça e que eu diminua. [...]” (João 3:30).

NEle, que nos convida a servir mais e não se ver superior a ninguém.
Um discípulo no Caminho.
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O Caminho é uma pessoa e seu nome é Jesus!
Graça, bondade, paz, perdão e amor...


Que assim seja nosso caminhar!

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