Hoje estava lendo e refletindo no texto de Atos 27 e, me veio a mente o que em nossos dias cada vez mais está em ascensão, o triunfalismo, profetismo e confissão positiva.
Esta maravilhosa história da viagem de Paulo a Roma, com suas dificuldades, seus alívios e sucessos, é um bom exemplo da quantidade de coisas boas e coisas ruins que estão sempre presente em nossa jornada de fé, enquanto vivermos a fim de desenvolvermos maturidade. Uma das coisas que me chamou a atenção nessa história é que nos momentos difíceis e desesperadores da vida humana sempre existem intervalos aqui e ali, que manifestam as mais belas e extraordinárias demonstrações do cuidado de Deus.
Atualmente é muito comum pensar a estrada da fé é um lugar onde só lidamos com coisas boas, ou como é dito hoje em dia: Pare de sofrer; é comum pensar que quando o Pai intervém na vida da sua Igreja (Igreja aqui não como placa denominacional, mas sim como o Corpo de Cristo espalhado pela terra), Ele elimina toda sorte de dor, angústia, aflição, tribulação e nos faz andar acima das dificuldades. Terrível engano! A realidade que as Escrituras e a experiência existencial nos mostra é o contrário de tudo isso. As histórias narradas nas Escrituras são pontilhadas de tristezas e alegrias, vitórias e derrotas, enfim dificuldades e sucessos. E tudo isso alternadamente na vida de cada um dos que formam a grande nuvem de testemunhas, desde Abel até o último mártir que houver.
O apóstolo Paulo, sentiu na pele o quanto um filho de Abba pode sofrer sem perder a esperança e sem ter sua fé abalada. Isso mesmo, pois ainda que entremos em crise, não podemos introjetar essa crise. Paulo por causa de seu testemunho em Damasco, foi perseguido por aqueles que com ele antes perseguiam os cristãos, agora, ele estava vivendo essa perseguição na pele e foi obrigado a fugir, isso mesmo fugir para salvar a sua vida. Aqui não vemos nada sobrenatural acontecer, para livrar o apóstolo dos inimigos não desce dos céus um redemoinho com uma carruagem de fogo saindo raios e ecoando trovões, também não apareceram anjos com espadas de fogo desembainhadas ao seu redor, nem mesmo Paulo parou e decretou, determinou ou profetizou que não iria morrer, não, não houve nada sobrenatural. Fizeram algo natural para salvar Paulo, desceram ele pela muralha de Damasco dentro de um cesto. Num cesto? Isso mesmo, em um cesto como se tivesse descendo uma trouxa de roupas sujas, ou mesmo como um pacote de compras feitas no supermercado mais próximo. Aquele que agora tinha decidido ser discípulo de Cristo precisou ser descido por uma janela e fugir dos inimigos vergonhosamente. Muitos hoje iriam dizer que ele tinha falta de fé. Mas, outra vez o encontramos isolado numa prisão, porém, ao invés de reclamar ou abandonar a fé ele aproveita esses momentos para se dedicar em orações, seus louvores e ainda mandar cartas para fortificar a fé de irmãos queridos. Se fosse atualmente diriam que ele vivia em pecado e sua vida espiritual era hipocrisia, porque de quando em quando, lá estava Paulo apanhando e na prisão.
Nesse texto de Atos percebemos que mesmo depois de Deus ter prometido livrá-lo, ele sofreu durante vários dias num mar agitado e nem por isso ficou indagando Deus, pelo contrário ele estava acalmando os ânimos dos marinheiros. E foi enfático ao dizer: “Tenham coragem, pois confio em Deus que tudo se cumprirá conforme me foi anunciado” (v.25). Por fim, quando eles vivem o livramento do Senhor de modo comum, bem natural, não vemos o texto dizer que vieram anjos para ajudar os homens no naufrágio, tão pouco vemos o mar secar e eles saírem andando a pé enxuto, não vemos nenhum sinal sobrenatural de que está executando um milagre, livrando esses homens da morte. No último versículo (v.44) o que vemos são homens aparentemente se esforçando para salvar suas vidas, pois um segura um mastro, outro, uma tábua flutuante, outro agarrar-se a um destroço qualquer do navio e também houve quem se salvasse nadando. Nem por isso deixou de ser milagre. Nem por isso deixou de ser um livramento. Lamentavelmente, hoje vemos pessoas que deixam de tomar o remédio sem consultar o médico, ou não se submetem a intervenções cirúrgicas achando que estão curadas, pois acham que fazendo o contrário estarão demonstrando falta de fé e consequentemente não viverão o milagre.
Deus tem um padrão para nossa vida e é demonstrado neste texto. Sabe qual? Depositar toda nossa esperança no Senhor, pois Ele sabe o momento certo de agir e como agir. E muitas vezes se utiliza de remédios e mãos de médicos para dar um livramento e operar milagre. O Evangelho ajuda cada um de nós que temos que continuar vivendo em meio as circunstâncias adversas e comuns. E essa ajuda não é fruto de confissões positivas: declare você vai conseguir, profetize que é hoje o dia da tua vitória. O Evangelho nos alimenta, a fim de encararmos de uma maneira totalmente prática e confiante, todo e qualquer problema sem perder a esperança na certeza de que Ele está através das situações difíceis formando em nós o caráter do Seu Filho Jesus.
Muitos se gabam das promessas de Deus como se isso gerasse imunidade, ou fosse um espécie de repelente contra as dores da vida. Mas promessas do Eterno e Seu cuidado, não nos deixam acima do plano do senso comum, ou mesmo do dia a dia, mas é através dessas coisas que a nossa fé é aperfeiçoada em Deus, cada dor, cada tristeza, cada dificuldade contribuem para o nosso crescimento. Ele está tecendo nossas vidas não como queremos, mas como Ele deseja e sonhou para nós! Portanto, vamos servi-lo pelo que Ele é e não pelo que Ele pode nos dar, pois o melhor, Ele já nos deu, a vida através do Seu Filho, então, sejamos grato por tudo, pois o que vir é lucro.
NEle, que nesta longa estrada da via dolorosa nos ensina, a fim de formar em nós seu caráter.
Daniel L. Gonçalves - Um discípulo no Caminho.
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O Caminho é uma pessoa e seu nome é Jesus!
Graça, bondade, paz, perdão e amor...
Que assim seja nosso caminhar!
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